Houve um tempo em que sossego não significava nada pra mim, uma vez que silêncio significava ausência de som. O outono vinha uma vez ao ano. Eu dançei, bochechas vermelhas, a cada primeira neve do ano. A língua pra fora pra provar cada ardência bem-vinda dos flocos. Eu ri, diferente dos ciclos da natureza, um pedacinho de admiração, flutuando numa torrente de tristeza que eu não podia compreender. Aquela risada com a boca aberta resume meu passado. Eu implorei por realização, superficial demais pra mostrar que nunca poderia ser totalmente preenchida de novo.
Quando você me disse que não era nada daquilo que a gente sempre imaginou, um vento frio soprou, uma janela bateu.
Quando as paredes e o teto cairam, eu pensei que era o final, mas era só o começo de um problema. Só um pesadelo normal
"Eu sei que determinada rua que eu já passei, não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa, pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez.
A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar.
Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque? Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, e que está em algum lugar me esperando embora eu ainda não a conheça? "